O papel do
psicopedagogo e a singularidade do sujeito
A
construção consciente de um papel social passa por processos de auto-observação
e identificação de características correspondentes às especificidades deste
papel. Neste início de jornada da formação em psicopedagogia recebemos o
convite de vivenciar atividades que propuseram conhecimentos, sentimentos e
reflexões.
Entendo que
um dos princípios básicos de quem trabalha com o ser humano é observar o outro
tanto quanto a si mesmo; é exercitar a empatia. Nesse sentido, uma questão que
norteia a construção do papel social de psicopedagoga que me proponho assumir é:
a serviço de quem a psicopedagogia está?
Desde a
primeira infância somos estimulados e continuamente incentivados a produzir:
super-humanos capazes de realizar um grande número de tarefas ao mesmo tempo,
absorvendo todo tipo de informação. Vivemos numa sociedade em que a aparência
suplanta o valor da essência. Com frequência corre-se o risco de agir
impulsivamente tomando suposições por fatos, na tentativa de atender a demanda
da alta produtividade que nos é exigida, e assim atender os interesses do
sistema produtivo em detrimento do desenvolvimento individual.
Em nosso
papel deteremos certo grau influência sobre o outro e com isso poderemos interferir
no curso de vida dos sujeitos. Com isso mais riscos: perder de vista a
compreensão das dificuldades individuais e não atentar para uma intervenção que
considere os diferentes âmbitos da aprendizagem, negligenciando sua promoção.
Ser psicopedagogo é assumir a grande responsabilidade de um trabalho ético bem
feito; devemos visar à investigação e não o pré-julgamento; a reflexão e a
percepção sobre nossos procedimentos.
Servindo ao
desenvolvimento humano, o psicopedagogo deve executar procedimentos e
técnicas dessa função e se dedicar a fazer quantas perguntas forem necessárias
para compreender como o outro vivencia seus processos de aprendizagem e adquire
seus conhecimentos, pois aprender é movimento e construção.
Ressalto: o
psicopedagogo lança seu olhar para como
o sujeito aprende. Um bom profissional nesta área reconhece a importância do
autoconhecimento; exercitará sua sensibilidade para perceber o que mobiliza a
aprendizagem em cada um. Deveremos alimentar nossa criatividade e procurar
tirar o outro de sua zona de conforto de maneira a inovar as formas de ensinar
propondo vivências, pois nosso cérebro apreende conhecimentos quando os
executamos, na prática. Quando vivemos as situações, mesmo em pensamento, nosso
corpo se transforma e nossa visão de mundo se amplia.
É nosso
papel incentivar o desejo de evolução; é cuidar de não fazer comparações entre
como a aprendizagem acontece em cada pessoa; é considerar a história por detrás
de cada um e razões para ele (a) ser como é, levando em conta seu ambiente, sua
família, personalidade, etc.
Nosso papel
é também respeitar os ritmos individuais: alguns demandam maior estimulação,
enquanto outros precisam ser desacelerados; cabe a nós estar atentos e presentes
para parcerias que geram mudanças. É preciso unir-se à escola, entender as
passagens entre os estágios de escolarização, pois cada transição demanda que o
sujeito se reorganize e há aí chances de problemas pontuais na aprendizagem,
que devem ser observados partindo da pergunta norteadora: a serviço de quem
realizaremos nosso trabalho: da escola ou do sujeito?
Sendo
psicopedagogos deveremos trabalhar em parceria com outros profissionais, pois o
desenvolvimento pode e deve ser olhado por diversos âmbitos e trabalhado de
diferentes formas. Buscar ajuda de fonoaudiólogos, neurologistas,
fisioterapeutas e outros será sempre um ato responsável e ético, pois não somos
super-humanos detentores de todo saber; também somos profissionais em
construção e aprendizado. Ao final do processo desenvolvido pelo psicopedagogo,
dar os feedbacks a todos os envolvidos é fundamental para avaliação de um
trabalho de qualidade em que há planejamento e estudo. Colocar-se frente a
crítica do outro é exercício de aprimoramento das nossas práticas.
Finalmente,
considero que nosso papel é identificar, orientar, prevenir e/ou remediar
padrões normais ou patológicos de aprendizagem humana. Sendo éticos e
responsáveis, podemos ter como meta de trabalho incorporar a fantasia e os
desejos para educar os sujeitos em sua totalidade e humanidade, nadando contra
a corrente da racionalidade desenfreada e da produtividade esmagadora. Será
realizador estar a serviço do humano, ajudando os sujeitos a construir sua
personalidade e incentivando o contínuo movimento de formação de sentidos para
a vida.