22 de agosto de 2016

Vamos aprender sobre a Psicopedagogia?

O papel do psicopedagogo e a singularidade do sujeito

A construção consciente de um papel social passa por processos de auto-observação e identificação de características correspondentes às especificidades deste papel. Neste início de jornada da formação em psicopedagogia recebemos o convite de vivenciar atividades que propuseram conhecimentos, sentimentos e reflexões.
Entendo que um dos princípios básicos de quem trabalha com o ser humano é observar o outro tanto quanto a si mesmo; é exercitar a empatia. Nesse sentido, uma questão que norteia a construção do papel social de psicopedagoga que me proponho assumir é: a serviço de quem a psicopedagogia está?
Desde a primeira infância somos estimulados e continuamente incentivados a produzir: super-humanos capazes de realizar um grande número de tarefas ao mesmo tempo, absorvendo todo tipo de informação. Vivemos numa sociedade em que a aparência suplanta o valor da essência. Com frequência corre-se o risco de agir impulsivamente tomando suposições por fatos, na tentativa de atender a demanda da alta produtividade que nos é exigida, e assim atender os interesses do sistema produtivo em detrimento do desenvolvimento individual.
Em nosso papel deteremos certo grau influência sobre o outro e com isso poderemos interferir no curso de vida dos sujeitos. Com isso mais riscos: perder de vista a compreensão das dificuldades individuais e não atentar para uma intervenção que considere os diferentes âmbitos da aprendizagem, negligenciando sua promoção. Ser psicopedagogo é assumir a grande responsabilidade de um trabalho ético bem feito; devemos visar à investigação e não o pré-julgamento; a reflexão e a percepção sobre nossos procedimentos.
Servindo ao desenvolvimento humano, o psicopedagogo deve executar procedimentos e técnicas dessa função e se dedicar a fazer quantas perguntas forem necessárias para compreender como o outro vivencia seus processos de aprendizagem e adquire seus conhecimentos, pois aprender é movimento e construção.
Ressalto: o psicopedagogo lança seu olhar para como o sujeito aprende. Um bom profissional nesta área reconhece a importância do autoconhecimento; exercitará sua sensibilidade para perceber o que mobiliza a aprendizagem em cada um. Deveremos alimentar nossa criatividade e procurar tirar o outro de sua zona de conforto de maneira a inovar as formas de ensinar propondo vivências, pois nosso cérebro apreende conhecimentos quando os executamos, na prática. Quando vivemos as situações, mesmo em pensamento, nosso corpo se transforma e nossa visão de mundo se amplia.
É nosso papel incentivar o desejo de evolução; é cuidar de não fazer comparações entre como a aprendizagem acontece em cada pessoa; é considerar a história por detrás de cada um e razões para ele (a) ser como é, levando em conta seu ambiente, sua família, personalidade, etc.
Nosso papel é também respeitar os ritmos individuais: alguns demandam maior estimulação, enquanto outros precisam ser desacelerados; cabe a nós estar atentos e presentes para parcerias que geram mudanças. É preciso unir-se à escola, entender as passagens entre os estágios de escolarização, pois cada transição demanda que o sujeito se reorganize e há aí chances de problemas pontuais na aprendizagem, que devem ser observados partindo da pergunta norteadora: a serviço de quem realizaremos nosso trabalho: da escola ou do sujeito?
Sendo psicopedagogos deveremos trabalhar em parceria com outros profissionais, pois o desenvolvimento pode e deve ser olhado por diversos âmbitos e trabalhado de diferentes formas. Buscar ajuda de fonoaudiólogos, neurologistas, fisioterapeutas e outros será sempre um ato responsável e ético, pois não somos super-humanos detentores de todo saber; também somos profissionais em construção e aprendizado. Ao final do processo desenvolvido pelo psicopedagogo, dar os feedbacks a todos os envolvidos é fundamental para avaliação de um trabalho de qualidade em que há planejamento e estudo. Colocar-se frente a crítica do outro é exercício de aprimoramento das nossas práticas.

Finalmente, considero que nosso papel é identificar, orientar, prevenir e/ou remediar padrões normais ou patológicos de aprendizagem humana. Sendo éticos e responsáveis, podemos ter como meta de trabalho incorporar a fantasia e os desejos para educar os sujeitos em sua totalidade e humanidade, nadando contra a corrente da racionalidade desenfreada e da produtividade esmagadora. Será realizador estar a serviço do humano, ajudando os sujeitos a construir sua personalidade e incentivando o contínuo movimento de formação de sentidos para a vida. 

16 de outubro de 2015

"Não desejo mal a ninguém. Não sei como isto se faz."

Uma ida ao Sebo do Messias, localizado na estação Sé, São Paulo, me trouxe um livro que eu não estava procurando. Procurava o autor a quem o livro apresenta, mas em outra obra, encontrada em outro sebo, do ladinho de casa, o Estação Coruja.

O autor, pedagogo, pediatra e grande homem: JANUSZ KORCZAK.
Minha descoberta desse ser humano incrível aconteceu por acaso, na biblioteca da universidade há alguns anos. Li "Quando eu voltar a ser criança", uma incursão pela mentalidade infantil a partir do ponto de vista de um adulto que volta a ser infante.

O livro que li em 3 dias foi este

O livro é uma homenagem ao trabalho incansável de Korczak junto a crianças da Polônia, órfãos da Primeira Guerra Mundial e uma apresentação de sua pedagogia do amor. 

Janusz construiu um orfanato que abrigava 200 crianças vitimizadas pela guerra: tiveram mutiladas suas famílias e, por consequência, seus corações e esperanças. Este homem adotou todas as crianças que encontrou, ensinou e inspirou diversos outros homens e mulheres de seu tempo a construir novos orfanatos e dar às crianças o amor e compreensão que as libertassem do que ele chama de "ditadura dos adultos". 

"A criança deve ter a liberdade de errar, e a vontade de melhorar, corrigir seus erros.
E esse modo de pensar exige do educador muita tolerância
[aproveitando o ensejo do Dia dos Professores que foi ontem]

Trabalhava dando amor, ensinando as crianças o valor do bem, de produzir, de ser cidadão, de defender seus diretos, de auto gerirem-se. Seus trabalhos e escritos foram, inclusive, material base para a escrita da Declaração dos Direitos da Criança, em 1959, pela Assembléia Geral das Nações Unidas.

"O sistema de educação de Korczak: procurar o apoio da criança e desta maneira conseguir transformá-la em seu ajudante, valorizando-a. A criança também tem o seu amor próprio e a sua personalidade, o que não se pode negar nem suprimir. Negar a personalidade da criança prejudica a formação do seu caráter, deprime e a magoa, porque ela é um ser muito sensível".

Descobri neste livro que há uma Associação Janusz Korczak do Brasil (e em vários outros países do mundo), que sua pedagogia é reproduzida em diversas escolas, tive contato com várias indicações de leitura e me emocionei com o fim deste grande ser humano. 

Indicações:

- Tese de Auto Gestão das Crianças
- Livro "O Direito da Criança ao Respeito"
- Visita ao museu Janusz Korczak, na rua Krochmalna, onde ficava o Orfanato, em Varsóvia.
- Theodor Adorno, "Educação após Auschwitz"

 "A criança pensa com os seus sentimentos, não com o intelecto"
"O educador não deve se abaixar até a criança, mas elevar-se a ela, e ao seu modo de ver e compreender as coisas."

Estas passagens do livro me remeteu a um outro livro maravilhoso
o qual acredito todas as pessoas deveriam ler pelo menos uma vez
na vida:



O fim
Aos 69 anos, Korczak acompanhou suas crianças até as câmaras de gás em Treblinka. Negou diversas oportunidades de salvar-se e deixá-las. Morreu tentando acalmar e proteger "seus" filhos. 



"Quanto mais amor se der a uma criança, quanto menos cousas lhe negarmos na infância, mais esperanças teremos de um mundo melhor"

6 de outubro de 2015

Um amor literário

Numa tarde fria e branca em São Paulo, aos seis de outubro de um ano que passa, termino de ler "O Melhor de Vinícius de Moraes". Um livro pequeno, de suas poucas 115 páginas, as quais me tiram do sofá e me levam para os anos dourados de sua existência.

Poeta, poetinha [Samba para Vinícius]
Camarada
Encantou inúmeras amadas.
Inebria com seus sonetos
E crônicas bem trabalhadas. 
Fico desejosa
De tê-lo conhecido
E quem sabe sido
Uma de suas namoradas.

Descobrir cada linha de seus textos é fazer um constante exercício de história. Remeter-nos a fatos e datas para compreender suas colocações. É também ter uma articulação literária capaz de nos basear a intertextualidade de suas colocações, como no último, "Soneto Sentimental a Cidade de São Paulo":

"Ó cidade tão lírica e tão fria!
Mercenária que importa - basta! - importa
Que à noite, quando te repousas morta
Lenta e cruel te envolve uma agonia

Não te amo à luz plácida do dia
Amo-te quando a neblina te transporta   [Cidade da garoa]
Nesse momento, amante, abres-me a porta
E eu te possuo nua e frigidia.

Sinto como a tua íris fosforeja
Entre um poema, um riso e uma cerveja
E que mal há se o lar onde se espera   [Moro em Jaçanã, se eu perder esse trem...]

Traz saudade de alguma Baviera
Se a poesia é tua, e em cada mesa
Há um pecador morrendo de beleza?" [É que Narciso acha feio o que não e espelho - Sampa, de Caetano]

E é claro que possivelmente há neste e em todos os outros sonetos muito mais referências externas que enriquecem o escrito. 
Também enriquecedores são os personagens que transitam em suas crônicas: velhos, apelidados, amigos, dirigentes, cinemas, filmes, atores, etc. Como na crônica "001", em que me deu uma vontade tremenda de conhecer o querido amigo de Vinícius, Otto Lara Resende. 

"Outros [amigos], pelo contrário, como Otto parecem estar sempre esticando uma mãozinha disfarçada para nos ajudar a carregar a nossa cruz. São seres de bons fluidos, que, quando a gente encontra o dia melhora. Eles têm o dom da palavra certa no momento certo e mesmo que tomem o maior dos pileques jamais se tornarão motivo de desarmonia. Sabem respeitar ao máximo a liberdade alheia a verdade alheia e a mulher alheia. E não é outra a razão pela qual Otto Lara Resende tem tantos 'deslumbrados' dos quais o mais conhecido é sem dúvida o seu maior 'promotor', o teatrólogo Nelson Rodrigues".


Em tom distinto, menos sentimental e mais infantil, Vininha nos coloca no meio de uma ciranda e nos lembra do que e ser criança como no poema "Modinha" e "Amor" - (Vamos brincar, amor? vamos jogar peteca/ Vamos atrapalhar os outros, amor, vamos sair correndo). 
E nos coloca em meio ao fascínio do amor e apaixonamento com "Receita de Mulher" - (As muito feias que me perdoem/ Mas beleza é fundamental), "Soneto do Amor Total", "Namorados Públicos", "Soneto de Fidelidade".

Um livro nascido do querido Sebo do Messias, na Sé, que me inebriou por alguns dias e que renovou meus votos com o querido poeta, inspiração para o nome do meu irmão.

Uma música:
POEMA DOS OLHOS DA AMADA

Um - o melhor - texto:

PARA VIVER UM GRANDE AMOR

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.





17 de fevereiro de 2014

A boa exploração

Tarde fria em São Paulo.
Depois de um período bastante seco e de muito sol, desde o final de semana reconheço São Paulo na garoa fina - mas não mais tão fria - e nas chuvas que caíram durante todo o dia de sábado. O arzinho mais gelado da cidade me inebria.

Assim que terminei de ler Morte Súbita comecei a leitura de O lado bom da vida (The Silver Linings Playbook), de Matthew Quick. O narrador desta história apresenta-se em primeira pessoa, diretamente conversando com o leitor curioso dos detalhes de seu aprisionamento num 'lugar ruim'. 

Diferentemente do primeiro livro mencionado, onisciente, em O lado bom... temos frequentemente o contato com os pensamentos de Pat, descritos por este, portanto ser astuto e perceber o que é a realidade mental e o que é a realidade do entorno é um exercício importante. É como em Dom Casmurro, de Machado de Assis: no que acreditar quando só conhecemos um lado da história? É divertido tentar adivinhar se o que está acontecendo faz parte das autorregras do personagem, de seu sistema peculiar de crenças, ou se efetivamente se aplica a seu entorno.

Além disso, o livro evidencia sobremaneira a importância da reinserção social de pessoas com problemas psíquicos em seu meio, com entes queridos e uma rede de apoio que com certeza deve sofrer com as dificuldades, mas que é essencial para o controle de impulsos, a construção de significados e sentidos do indivíduo, a sanidade e saúde mental.

Faltam ainda poucas páginas para terminar o livro e o que mais me chamou a atenção foi o terapeuta de Pat, Cliff. O personagem principal evidentemente evolui positivamente durante cinco meses de relatos, divididos em capítulos curtinhos, e é belo observar as descrições que este faz em relação a seu terapeuta. Percebemos as habilidades sociais de Pat ao descrever e conseguir reconhecer as reações de seu terapeuta, tanto quanto podemos ver a construção do vínculo entre paciente e terapeuta - passagens muito bonitas do livro.


Em paralelo às impressões sobre este livro, gostaria de relatar uma entrevista da qual participei hoje. O processo de busca por trabalho e o hunting das empresas pode ser conduzido de formas muito diferentes. Em princípio acredito que o trabalho humano, quando valorizado e bem explorado tem o imenso potencial de extrair o melhor de cada pessoa e foi como me senti hoje.

Ter a chance de falar sobre si, sobre suas experiências, objetivos e habilidades é algo que demanda uma articulação e boas falas, além do autoconhecimento e auto-observação. Mas a maneira como alguém demanda sua apresentação tem o poder de te fazer entender bem a si mesmo, definir metas e objetivos e buscar o melhor de si. Exploração boa.

No livro, Pat promove uma exploração exagerada pela definição de um corpo perfeito, mas com um objetivo claro. Constantemente evidencia o quanto explora as reações das outras pessoas, descrevendo como tais reações o afetam e a partir disso o que ele espera delas.

O terapeuta de Pat explora suas emoções, autocontrole e afetos promovendo o equilíbrio psíquico e mental de seu paciente, mas só alcança resultados a partir de boas habilidades e da participação efetiva do outro. 

Então... a boa exploração tem poder. Um poder que a psicologia, fico contente em destacar, sempre se esforça por alcançar e desenvolver. O psicólogo parte do acompanhamento próximo e 'organização das ideias e emoções' para que cada um possa ser o melhor que puder, para si e para o mundo. 

Pat me fez lembrar um pouco o livro Poliana e Poliana Moça, de Eleanor H. Porter, já que ambos personagens principais exercitam a positividade e a esperança de que no final tudo irá acabar bem.

Seja uma expectativa, uma chance de trabalho, uma promessa. O importante é acreditar e continuamente explorar o que há de melhor e mais complexo em cada um. O lado bom da vida é a oportunidade de descoberta da felicidade.




Pós-scriptium:
Como fiz com o primeiro livro, gostaria de transcrever passagens que me chamaram a atenção em O lado bom... aí vão.

"Cliff não fiz que devo encarar o que ele acha que é minha realidade."

A respeito do romance A redoma de vidro, de Sylvia Plath
"_ Porque esse romance ensina os jovens a serem pessimistas. Nenhuma esperança no fim, nenhum final feliz. Os adolescentes devem aprender que...
_ A vida é dura, Pat, e os jovens têm de saber quão difícil ela pode ser. 
_ Por quê?
_ Para que sejam solidários. Para que compreendam que algumas pessoas têm mais dificuldades do que eles e que uma passagem por este mundo pode ser uma experiência totalmente diferente, dependendo de quais substâncias químicas estão ativas na mente de um indivíduo."

"Ele comete alguns erros, mas eu nem ligo, porque ele está se esforçando muito para tocar a música corretamente para mim e é isso que importa, não é?"

"Nas fotos, minha mãe está usando um vestido marrom-chocolate e uma faixa vermelho-sangue sobre os ombros nus. A cor de seu batom combina perfeitamente com a da faixa, mas ela está usando muita maquiagem nos olhos, o que a faz parecer um guaxinim. Por outro lado, seu cabelo está arrumado com aquilo que Nikki chamaria de 'um penteado clássico' e está muito bonito, então digo à minha mãe que ela é muito fotogênica, o que a faz sorrir."

"Muitas vezes a vida real acaba mal, como aconteceu com nosso casamento, Pat. E a literatura tenta documentar essa realidade, mostrando que ainda é possível suportá-la com nobreza."

12 de fevereiro de 2014

Passagens do livro "Morte Súbita"

Faltavam apenas umas 250 páginas ontem, quando escrevi a resenha do livro Morte Súbita. Horas e horas de leitura hoje me permitiram terminá-lo. Triste. Do tipo "final realidade" e não o final feliz que geralmente esperamos em obras de ficção.

"Finais realidade" são importantes, pois dependendo da história um final floreado o bonitinho não faria jus a toda trama. Penso que talvez tais finais nos tragam a consciência de que independente da forma como as vida segue na realidade, se a virmos com olhos mais cuidadosos e assíduos encontraremos bonitas narrativas em todos os lugares. E que finais felizes podem ser diferente dos grandes estereótipos.

Apenas fiquei tentada a transcrever algumas passagens do livro que gostei mais.

"O psicólogo havia lhe dito para não tentar confirmar ou contradizer o conteúdo desse tipo de pensamento. Tinha apenas que reconhecer a existência dele e seguir em frente, como se tudo fosse absolutamente normal, mas isso era como tentar não coçar uma coceira insuportável".

"... uma minúscula  fagulha de esperança se acendeu dentro ela, imaginando que Tessa pudesse interceder a seu favor. Será que a compreensão do desespero ... poderia, enfim, provocar uma ruptura na desaprovação implacável da sua mãe, no seu desapontamento constante, no seu criticismo empedernido e sem fim?"

"... mas principalmente riam porque estavam rindo, alimentando os próprios risos até não aguentarem mais".

"No fundo desejava uma vida que havia vislumbrado, mas jamais experimentara. No entanto, essa mesma vida desejada o assustava. Escolher é algo perigoso: quando escolhemos, temos que abrir mão de todas as outras possibilidades".

E sobre esta última passagem me lembrei de um filme muito bom: Senhor Ninguém (Mr. Nobody, 2009), no qual a infinita possibilidade retrata múltiplas vidas que poderiam ser vividas e a certeza de que nunca estaremos livres de alegrias e decepções/traumas/tristezas. Vale a pena assistir.




Estamos continuamente nos equilibrando entre escolhas e consequências. Entre momentos, decisões, atitudes e pessoas.
Mais um livro que acaba, recomendo a todos esta leitura tão intensa e bem construída.