Engato a quarta marcha da leitura depois de semanas meio empacada com o novo livro, ganho em um divertido amigo secreto no final do ano passado.
Escrever minhas impressões sobre o livro será um pouco custoso, uma vez que algumas teclas do meu computador estão insistentemente se recusando a funcionar. Um pouco irritante, mas a ânsia pela escrita não aparece há tanto tempo que me recuso abandonar essa vontade agora por causa de cinco ou seis teclinhas de nada.
Estou lendo Morte Súbita ("The Casual Vacancy", título original), de J. K. Rowling. A mundialmente conhecida autora da série de livros do bruxo que foi grande companheiro da minha adolescência e de tantos outros jovens, lança essa obra continuando um belo trabalho.
Quando o livro estava para ser lançado li uma reportagem que dizia que a autora enviou o manuscrito do livro anonimamente para diversas editoras, usando um pseudônimo. Este livro foi recusado por várias delas, algo que muito provavelmente não aconteceria caso soubessem a mina de ouro que estavam dispensando. O interessante dessa atitude é perceber o quanto o anonimato permite a exosião de oiniões mais verdadeiras.
A trama do livro é bastante complexa na medida em que a autora narra uma rede de conexões entre pessoas de Pagford e Yarvil, apresentando em doses envolventes a história de vida de cada personagem e suas características mais marcantes.
Tive alguma dificuldade de me envolver com a historia no início. Me sentia como se numa conversa entre amigos antigos, sendo exposta a pessoas, lugares e situações já familiares a alguém e completamente desconhecidos meus. Entretanto, a medida que a leitura avança (e seria impossível desistir dessa leitura) os nomes dos personagens são memorizados e estes vão se tornando velhos conhecidos. A empatia com as sensações, felicidades e - princialmente - dores dos habitantes das pequenas cidades aumenta a cada página.
O anonimato do leitor é uma condição privilegiada. Me anima poder mergulhar nos pensamentos, sentimentos e histórias individuais e, como psicóloga, passo um tempo considerável pensando no que poderia ser feito, analisando aspectos que me chamam mais a atenção.
A história apresenta fortes elementos de uma sociedade tradicional e engessada em estereótipos. Ainda avalio essa vicissitude da trama: a grandessíssima maioria dos relacionamentos descritos entre casais, amigos, pais e filhos, tem a qualidade do silêncio e dos não ditos. Relacionamentos em que o verdadeiro sentimento não é expresso pelos mais variados motivos circunscritos às especificidades de cada grupo de pessoas envolvidas. Pessoas que deixam de expressar seus sentimentos vivem num enclausuramento psíquico potencialmente problemático. Asas à imaginação são benéficas quando catárticas. Não quando alimentam fantasias, crenças e regras impeditivas de experiências humanizadoras, enriquecedoras e - simplesmente - felizes.
A única família que aparenta uma funcionalidade saudável é a de Barry Fairbrother, aquele personagem falecido via morte súbita no início da trama. Entretanto... a aparência se deveria ao luto, à permanência do que há de positivo daquele que se foi? Muito provavelmente.
Talvez um dos impulsos mais fortes durante a leitura seja o de voltar as páginas àquelas anteriores ao começo do livro, na cabeça de J.K. Rowling, e conhecer o Sr. Barry, para validar e/ou refutar as opiniões pessoas expressas por todos os personagens. Mais ainda: para tomar partido por um lado ou outro, aliar-se a uns e não a outros. De forma um tanto distanciada mas ainda assim intimista, participamos da dinâmica da cidade, tornamo-nos cidadãos e quase posso sentir a suave brisa do rio que cruza o distrito de Pagford.
Ainda não terminada a leitura, não sei onde todas as complexas relações chegarão e estou curiosa. Agora, finalmente envolvida, anseio pelo desfecho e conclusões (que talvez não aconteçam...) tanto quanto gostaria que o livro tivesse umas 800 páginas, para que a cumplicidade recém construída não acabe tão rápido quanto a velocidade da leitura.
Como no livro A menina que roubava livros, de Markus Suzak, fico sentida de me empolgar com a leitura só depois das primeiras 100 páginas... é como fazer um amigo que vai embora dentro de pouco tempo: sente-se mais a partida pelos momentos sabidamente não aproveitados e que depois nunca serão. Como tudo na vida, portanto, é hora de aproveitar o tempo que nos resta, mergulhar em mundos individuais riquíssimos e apreender um pouco mais de belezas e dores. Antes que o próprio livro morra subitamente na página 501, deixando-nos órfãos de mais um amigo.
Estou lendo Morte Súbita ("The Casual Vacancy", título original), de J. K. Rowling. A mundialmente conhecida autora da série de livros do bruxo que foi grande companheiro da minha adolescência e de tantos outros jovens, lança essa obra continuando um belo trabalho.
Quando o livro estava para ser lançado li uma reportagem que dizia que a autora enviou o manuscrito do livro anonimamente para diversas editoras, usando um pseudônimo. Este livro foi recusado por várias delas, algo que muito provavelmente não aconteceria caso soubessem a mina de ouro que estavam dispensando. O interessante dessa atitude é perceber o quanto o anonimato permite a exosião de oiniões mais verdadeiras.
A trama do livro é bastante complexa na medida em que a autora narra uma rede de conexões entre pessoas de Pagford e Yarvil, apresentando em doses envolventes a história de vida de cada personagem e suas características mais marcantes.
Tive alguma dificuldade de me envolver com a historia no início. Me sentia como se numa conversa entre amigos antigos, sendo exposta a pessoas, lugares e situações já familiares a alguém e completamente desconhecidos meus. Entretanto, a medida que a leitura avança (e seria impossível desistir dessa leitura) os nomes dos personagens são memorizados e estes vão se tornando velhos conhecidos. A empatia com as sensações, felicidades e - princialmente - dores dos habitantes das pequenas cidades aumenta a cada página.
O anonimato do leitor é uma condição privilegiada. Me anima poder mergulhar nos pensamentos, sentimentos e histórias individuais e, como psicóloga, passo um tempo considerável pensando no que poderia ser feito, analisando aspectos que me chamam mais a atenção.
A história apresenta fortes elementos de uma sociedade tradicional e engessada em estereótipos. Ainda avalio essa vicissitude da trama: a grandessíssima maioria dos relacionamentos descritos entre casais, amigos, pais e filhos, tem a qualidade do silêncio e dos não ditos. Relacionamentos em que o verdadeiro sentimento não é expresso pelos mais variados motivos circunscritos às especificidades de cada grupo de pessoas envolvidas. Pessoas que deixam de expressar seus sentimentos vivem num enclausuramento psíquico potencialmente problemático. Asas à imaginação são benéficas quando catárticas. Não quando alimentam fantasias, crenças e regras impeditivas de experiências humanizadoras, enriquecedoras e - simplesmente - felizes.
A única família que aparenta uma funcionalidade saudável é a de Barry Fairbrother, aquele personagem falecido via morte súbita no início da trama. Entretanto... a aparência se deveria ao luto, à permanência do que há de positivo daquele que se foi? Muito provavelmente.
Talvez um dos impulsos mais fortes durante a leitura seja o de voltar as páginas àquelas anteriores ao começo do livro, na cabeça de J.K. Rowling, e conhecer o Sr. Barry, para validar e/ou refutar as opiniões pessoas expressas por todos os personagens. Mais ainda: para tomar partido por um lado ou outro, aliar-se a uns e não a outros. De forma um tanto distanciada mas ainda assim intimista, participamos da dinâmica da cidade, tornamo-nos cidadãos e quase posso sentir a suave brisa do rio que cruza o distrito de Pagford.
Ainda não terminada a leitura, não sei onde todas as complexas relações chegarão e estou curiosa. Agora, finalmente envolvida, anseio pelo desfecho e conclusões (que talvez não aconteçam...) tanto quanto gostaria que o livro tivesse umas 800 páginas, para que a cumplicidade recém construída não acabe tão rápido quanto a velocidade da leitura.
Como no livro A menina que roubava livros, de Markus Suzak, fico sentida de me empolgar com a leitura só depois das primeiras 100 páginas... é como fazer um amigo que vai embora dentro de pouco tempo: sente-se mais a partida pelos momentos sabidamente não aproveitados e que depois nunca serão. Como tudo na vida, portanto, é hora de aproveitar o tempo que nos resta, mergulhar em mundos individuais riquíssimos e apreender um pouco mais de belezas e dores. Antes que o próprio livro morra subitamente na página 501, deixando-nos órfãos de mais um amigo.
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