Poeta, poetinha [Samba para Vinícius]
Camarada
Encantou inúmeras amadas.
Inebria com seus sonetos
E crônicas bem trabalhadas.
Fico desejosa
De tê-lo conhecido
E quem sabe sido
Uma de suas namoradas.
Descobrir cada linha de seus textos é fazer um constante exercício de história. Remeter-nos a fatos e datas para compreender suas colocações. É também ter uma articulação literária capaz de nos basear a intertextualidade de suas colocações, como no último, "Soneto Sentimental a Cidade de São Paulo":
"Ó cidade tão lírica e tão fria!
Mercenária que importa - basta! - importa
Que à noite, quando te repousas morta
Lenta e cruel te envolve uma agonia
Não te amo à luz plácida do dia
Amo-te quando a neblina te transporta [Cidade da garoa]
Nesse momento, amante, abres-me a porta
E eu te possuo nua e frigidia.
Sinto como a tua íris fosforeja
Entre um poema, um riso e uma cerveja
E que mal há se o lar onde se espera [Moro em Jaçanã, se eu perder esse trem...]
Traz saudade de alguma Baviera
Se a poesia é tua, e em cada mesa
Há um pecador morrendo de beleza?" [É que Narciso acha feio o que não e espelho - Sampa, de Caetano]
E é claro que possivelmente há neste e em todos os outros sonetos muito mais referências externas que enriquecem o escrito.
Também enriquecedores são os personagens que transitam em suas crônicas: velhos, apelidados, amigos, dirigentes, cinemas, filmes, atores, etc. Como na crônica "001", em que me deu uma vontade tremenda de conhecer o querido amigo de Vinícius, Otto Lara Resende.
"Outros [amigos], pelo contrário, como Otto parecem estar sempre esticando uma mãozinha disfarçada para nos ajudar a carregar a nossa cruz. São seres de bons fluidos, que, quando a gente encontra o dia melhora. Eles têm o dom da palavra certa no momento certo e mesmo que tomem o maior dos pileques jamais se tornarão motivo de desarmonia. Sabem respeitar ao máximo a liberdade alheia a verdade alheia e a mulher alheia. E não é outra a razão pela qual Otto Lara Resende tem tantos 'deslumbrados' dos quais o mais conhecido é sem dúvida o seu maior 'promotor', o teatrólogo Nelson Rodrigues".
Em tom distinto, menos sentimental e mais infantil, Vininha nos coloca no meio de uma ciranda e nos lembra do que e ser criança como no poema "Modinha" e "Amor" - (Vamos brincar, amor? vamos jogar peteca/ Vamos atrapalhar os outros, amor, vamos sair correndo).
E nos coloca em meio ao fascínio do amor e apaixonamento com "Receita de Mulher" - (As muito feias que me perdoem/ Mas beleza é fundamental), "Soneto do Amor Total", "Namorados Públicos", "Soneto de Fidelidade".
Um livro nascido do querido Sebo do Messias, na Sé, que me inebriou por alguns dias e que renovou meus votos com o querido poeta, inspiração para o nome do meu irmão.
Uma música:
POEMA DOS OLHOS DA AMADA
Um - o melhor - texto:
PARA VIVER UM GRANDE AMOR
Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.
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